Todo QA é um caçador de bug

Rafael Fernandes Pereira
Dev to QA
Published in
3 min readJul 2, 2021

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Foto de NEOSiAM 2021 no Pexels

Quando eu era criança, minha cabeça explodiu ao assistir Hunter x Hunter: “Um anime onde a profissão dos personagens é caçar? Quero isso para minha vida!”. E essa vontade de ser caçador ficou mais intensa quando vi o Boba Fett e os Bounty Hunters em Star Wars. Assim, coloquei como meta de profissão: quero ser um caçador.

Me tornei adulto, continuei assistindo animes e Star Wars, mas não me tornei um caçador. Me tornei programador.

Como programador, eu desenvolvi e dei manutenção em programas, construí frameworks e criei muitos bugs, trabalhando em diversas linguagens e paradigmas. Mas eu fazia algumas coisas um pouco diferente do programador-tradicional-hacker-que-fica-no-pc-e-é-anti-social: comunicação com as pessoas, preocupação com qualidade do produto e fazia um bom elo entre negócios e programadores.

Assim, junto a outros fatores, fiz a migração de área: trabalhar com qualidade de software, onde eu poderia continuar com essa comunicação e elo entre as áreas, além de poder atuar com qualidade. Então, estava indo me tornar um caçador de bugs.

A alcunha de que QA é um caçador de bugs é pelo fato de que esses belos e magníficos profissionais eram vistos apenas como caçadores de erros, problemas e inconsistências nos softwares. Era aquele profissional que atuava depois que o software já estava pronto e ele ia lá falar: “ô programador, não fez certo a funcionalidade, tá com erro, arruma aí”. Adorado pelos gerentes, odiado pelos programadores.

Agora, essa visão está sumindo graças à forte adesão ao modelo ágil de desenvolvimento, onde o QA não é mais o caçador de bugs. Ele é o braço do negócio dentro do time, dissemina conhecimento sobre qualidade, ajuda em diversos pontos dentro do time, automatiza processos e testes e ainda verifica se o produto possui bugs. Agora ele é um pouco mais amado pelos programadores. Então, essa pessoa não é “caçadora de bugs”.

Mas confesso que fiquei triste quando vi que QA não era mais um caçador. Por mais que essa alcunha não fosse bem vista nem pelos profissionais de qualidade e nem pelos outros profissionais que atuavam com ele, continuei triste.

Quer dizer, quem ficou triste foi minha criança interior, que tinha visto uma esperança de ser um caçador de alguma coisa e, que agora, não teria mais esse título. O título está “manchado”, é feio e bobo. QA não quer ter esse título na assinatura do email. Não iria ter minha licença de Hunter.

Cartão da licença de Hunter do anime Hunter x Hunter

Então, esses dias me peguei pensando sobre o “caçador de bugs”: realmente nós, QAs, deixamos de ser caçadores de bugs? A caça realmente é o fato de localizar o alvo ou há mais atividades na caça? Depois de refletir sobre isso, passei a ter uma visão maior para o caçador de bugs.

Para mim, todo QA ainda é um caçador de bugs. Isso não significa que a caça deve ser feita depois do software pronto. A criação de armadilhas, na forma de automação de testes, ser um estrategista e conselheiro de caça, na forma de ser uma extensão do negócio e ponto focal de qualidade dentro do time e realizar a conscientização de prevenção de pragas, na forma da disseminação de qualidade, também fazem parte da estratégia de caça aos bugs. Bug bom é bug que não consegue nem nascer.

Com esse pensamento, me sinto melhor em falar que sou um caçador de bugs. E ainda por cima, realizo o sonho da minha criança interior.

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